Caminhando pelas ruas é fácil perceber um certo tumulto fora do comum, calçadas quebradas, desvios improvisados, tumulto desnecessário em um trânsito de certo modo tranquilo, um certo chamado desesperado... Estamos em obras.
Imediatamente ligo para meus assessores, falo com algumas pessoas a qual devia alguns favores, preparo um belo discurso e durante a tarde vou a uma humilde periferia beijar a cabeça de algumas criancinhas e dar atenção à meia dúzia de pobres coitados. Mas enfim a noite chegou e posso me livrar desse asco, tomar meu 12 anos, fumar meu charuto e deslumbrar a bela vista de minha cobertura no centro da cidade, B.B. King é minha cereja neste bolo recheado de mentiras.
Sentado no sofá de casa de minha casa percebo como a televisão deixa tudo muito bonito e apresentável, as músicas inspiradoras, apresentadoras espetaculares num cenário motivador e próspero... Quando desvio o olhar para meu sofá e o vejo desgastado, a comida já tinha esfriado sob a mesa. Lembro que já é quase meia noite e tenho de acordar cedo para trabalhar, um dia tão cheio que mal o vejo passar, não tenho ideia nem de como passa tão rápido. E para quem?
Quatro anos é um ótimo período para recriarmos problemas que não foram resolvidos e desenvolver ideias espetaculares para os mesmos, o povo adora! E oferecer pequenas doações por nossa dignidade parece justo pelo erro alheio. Quanto tempo demorará para aprendermos que quem tem, sempre vai ter mais. E os escravos do sistema continuam sorrindo enquanto alegorias passam, apertos de mão entregam ilusões e por trás de todo o teatro continuam trabalhando os homens de preto.
Cansado, sem saída neste quarto escuro, sem esperanças de uma revolução, ou melhor, evolução intelectual de meus companheiros... Fomos explorados, colonizados e infelizmente perpetua por séculos em nossa cultura o que fizeram com nossos ancestrais.
Espero que seja apenas este, o meu olhar... Boa noite.
Fernando Mateus
Fernando Mateus
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